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Arte Oriental

domingo, 31 de março de 2013

*A Pintura Chinesa:
         Para um ocidental a aproximação à pintura chinesa se efetua através de um caminho cheio de dificuldades.
     Não só se encontra confrontado com umas técnicas, suportes e formatos que lhe resultam caros, mas também com um conceito do espaço diferente ao seu e sobretudo com um sentimento de natureza e da vida absolutamente estranhos a sua própria estrutura mental. No Ocidente, escritura e imagem estão radicalmente dissociadas, o conceito de pintura se baseia sobre o do quadro enquanto que uma “janela aberta para o mundo” (e portanto com um “marco” que limita o campo de visão) e a imagem do pintor è a de um “profissional” que até o nosso século, quando abriu uma passagem as concepções abstratas, produzindo-se uma liberação e uma diversificação nas atitudes – buscava a procura de um prazer estético ao mesmo tempo que imitava com a maior fidelidade possível as aparências da realidade visual em suas proporções dos elementos da natureza ou em suas ilustrações do dogma ou da história. Dentro desta linha de simplificações podemos acrescentar que seu conceito de espaço é fundamentalmente unitário e imóvel, baseado nas leis da perspectiva central (e por conseguinte com todas as linhas da representação convergindo num único ponto de fuga) e que sua noção da forma é essencialmente plástica, tridimensional, procurando sempre representar o volume mediante o moldado e uma correta aplicação das luzes e das sombras. Pois bem: todas estas noções se encontram negadas total ou parcialmente na pintura chinesa. Generalizando, como fizemos anteriormente, podemos dizer que a pintura chinesa, realizada usualmente sobre papel ou sobre seda formando rolos horizontais (cheu) ou verticais (shu-kiüen), não parte da existência do marco, negando-se assim a circunscrever o espaço tal como se faz na pintura ocidental e avaliando os vazios de uma forma desconhecida nesta pintura. Por outra parte, não pressupõe um ponto de vista único e um espectador imóvel: ao contrário, ao abrirmos o rolo assistimos a uma sucessão de cenas com diferentes pontos de fuga e o espectador se vê convidado a percorrer a paisagem entrando por seus vales, cruzando as pontes que atravessam os rios, parando diante de arvores agitadas pelo vento ou escalando os cumes das montanhas.
     
     Alguns autores compararam esta visão espacial à sensação que se experimenta diante de uma sucessão fílmica de imagens; outros, à de uma paisagem vista através da janela de um trem. As comparações são forçosamente imprecisas e com toda certeza impróprias, mas o certo é que na pintura chinesa se configura um universo e um sentido do espaço essencialmente dinâmicos e que o espectador é impelido para o interior da paisagem. Embora se utilize mais de um método de perspectiva, a visão chinesa do espaço é geralmente panorâmica. Ao contrário do que sucede na pintura ocidental, se pressupõe que a linha do horizonte para onde convergem todos os pontos de fuga não está situada na frente mas atrás do espectador e isso tem como conseqüência que ao serem projetados sobre a superfície pictórica discordam com a distância. Por outra parte, e acostumados por seus hábitos de leitura, percorrem a imagem da direita para a esquerda e de cima para baixo, o pintor chinês tende a enfocar a paisagem do mesmo modo: como o vôo de um pássaro e seguindo uma linha diagonal que vai desde o ângulo superior direito ao inferior esquerdo. O resultado de tudo isso é a consecução de umas amplitudes espaciais desconhecidas na arte ocidental. A natureza, limitada, cobra dimensões quase cósmicas e, ao se sentir imerso nelas, o homem cobra consciência de sua própria infância.


O conceito da forma também é diferente na pintura chinesa. Esta pintura não procura realçar a plasticidade das formas acentuando, através de sombras, seu volume. Ao contrário, se centra em extrair, através da linha, seus ritmos essenciais e característicos e rejeita portanto se utilizar das sombras que não constituem nada mais que um elemento acidental que pode contribuir para velar a verdadeira essência das coisas. Com isso nos enfrentamos às noções diferentes de “realismo” que utilizam a pintura ocidental e a chinesa. Para a primeira, o conceito de realismo se baseia na transcrição fiel da realidade visual e na representação do concreto e portanto do acidental. Para esta última, uma visão semelhante do fato pictórico não tem sentido, salvo talvez no campo do retrato. Os pintores chineses estudam minuciosa e amorosamente as árvores, flores ou os pássaros e se esforçam em captar sua individualidade; mas o que lhes interessa é registrarem o seu ser íntimo e não sua superfície e muito menos qualquer aspecto acidental, pois sua visão da pintura não se detem na representação do concreto. Ao contrário, o trabalho pictórico é um meio de entrar em contato com a harmonia cósmica, um exercício destinado a descobrir os ritmos vitais da natureza ou a expressar sentimentos e idéias universais que se revelam através do artista e de sua comunhão com a natureza. Desse modo, podemos considerar que toda a pintura chinesa tem um caráter simbólico dado que a representação das montanhas, árvores ou rios é utilizada apenas como veículo de expressão para sentimentos ou noções abstratas. Por outra parte, ao ser entendido assim, o exercício da pintura, se converte numa das mais altas atividades humanas e ao mesmo tempo num meio de aperfeiçoamento pessoal, adquirindo uma natureza quase religiosa. Antes de começar a pintar, os preceptores afirmarão, o artista deverá ter alcançado um estado determinado de pureza e equilíbrio que lhe permita se inserir nas forças do universo; do mesmo modo, a contemplação exige um estado de ânimo propício.

fonte:http://www.portalartes.com.br/pintura-oriental/182-a-pintura-chinesa.html

 

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